Mateus Guimarães é promessa de medalha olímpica no judô
- Isadora Peçanha
- 23 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Judoca do Instituto Reação, menino de 12 anos vence a rotina da violência

Falhas, choros e derrotas. Após perder todas as lutas em 2015, o judoca Matheus Guimarães, aos 10 anos, precisou aprender rápido com os erros e treinar como nunca havia feito antes para deixar os fracassos para trás. Em 2016, conquistou o que almejava: foi campeão brasileiro sub-13, o que é raro para um garoto de 11 anos, e no mesmo ano ficou, também, com a medalha de ouro no Pan-Americano da mesma categoria. No entanto, sua maior conquista no judô, além da faixa verde, foi uma bolsa de estudos em um colégio particular no Rio, o que segundo ele irá ajudá-lo a realizar os seus maiores sonhos. Pensa em seguir os passos da atleta campeã olímpica Rafaela Silva, que é da Cidade de Deus assim como ele e chegar à seleção brasileira, disputar os Jogos Olímpicos de 2024 e ganhar uma medalha de ouro.
Acordar de manhã, ir à escola, descansar e treinar. Poderia ser uma rotina comum de qualquer atleta adolescente de alto rendimento se não fosse a violência em volta de casa. Ruas estreitas, policiais na porta de casa e tiroteios compõem o cenário vivido por Matheus. Aos 6 anos sofria com a morte do pai até uma brincadeira mudar sua vida. Saiu correndo para pegar uma pipa e se deparou com uma aula de judô da comunidade Cidade de Deus. A paixão foi à primeira vista, e, em choque com o que presenciou, voltou no dia seguinte. Tomou a iniciativa, falou com sua mãe e implorou para poder participar de uma aula, a partir daquele dia o garoto não parou mais.
Confiança, inspiração e família. Matheus é conhecido como “Orelha” pelos amigos judocas e treinadores do projeto Reação devido a suas orelhas um pouco grandes. O apelido ele leva na brincadeira e acha até engraçado, fator que mostra um pouco da relação de amizade que ele conseguiu fazer lá. Algo que não aconteceu no início complicado, já que era muito introspectivo e vivia um momento muito triste, havia acabado de perder o pai para a violência. O Instituto Reação, criado em 2003 pelo atleta Flavio Canto e treinador Geraldo Bernardes, tem o objetivo de utilizar o esporte como instrumento de transformação educacional e social.
“O Reação tem um treino muito bom. Eu amo ser atleta daqui porque eu aprendo muito, os professores são excelentes e muitos judocas que considero inspirações também treinam aqui. A Rafaela treina duro aqui com a gente, ela conseguiu chegar lá, quer dizer que eu também posso ir para a seleção”, completa Matheus, que já teve oportunidade de treinar ao lado de muitos ídolos do esporte.

“Jovens vindos de comunidade já têm a atitude necessária para o judô, eles correm, pulam, são fortes, desenvolvem uma coordenação natural para lutar. Essas atitudes fazem com que eles se imponham no tatame” diz Geraldo Bernardes, treinador do Instituto, sobre a influência da comunidade na vida do atleta. O laço que existe entre Matheus e seus professores é forte, como se fosse uma família. Geraldo, a quem Matheus considera um pai, é presente na vida do menino desde os primeiros passos no judô, foi ele quem tornou o garotinho da Cidade de Deus em um campeão de alto rendimento. As vitórias de Matheus não pararam em 2016, com inteligência e determinação ele chegou ao bicampeonato do Campeonato Brasileiro de Judô em 2017. Para Geraldo, o judoca terá um futuro de glórias, mas isso somente se ele manter os pés no chão, continuar treinando e manter o foco mesmo com insucessos.
Antes do judô, Matheus era um garoto que arrumava confusão na rua, passava o dia fora de casa e assim, mais próximo da violência que o cerca. O maior medo de sua mãe era o envolvimento com o tráfico, que é muito comum entre os vizinhos e conhecidos. Devido ao esporte e à intensa rotina de treinos, o caminho do atleta mudou completamente e o judô passou a ser o maior amor de sua vida. Hoje, quando não está treinando, soltando pipa ou na praia, Matheus está em casa, em sua cama sonhando com o judô do dia seguinte. É um amor que transcende o tatame. “Depois de começar a lutar eu passei a respirar e sonhar o judô”, disse Matheus Guimarães, um menino cheio de vontade de realizar seus sonhos.
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