Transporte público não atende a necessidade dos moradores
- Lucas Evangelista
- 21 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Os ônibus só circulam na rua principal e o transporte interno é feito por Kombis e moto-táxis

Apenas uma rua da Cidade de Deus é atendida pelo transporte público. A Edgard Werneck é a única, em toda região, que circula ônibus. Segundo a Secretaria Municipal de Transporte, as vias internas da Cidade de Deus inviabilizam a circulação de veículos longos por serem estreitas. Por esse motivo, moradores do bairro que habitam longe da rua principal têm que recorrer a alternativas para se deslocarem internamente.
Uma dessas alternativas é o Serviço de Transporte Público Comunitário. As kombis atendem cerca de 13 localidades da Cidade de Deus, entre elas estão Rainha, 13, Ponte Grande, Predinhos, Rocinha 2 e Casinhas Novas. Se durante o percurso, algum passageiro tiver como destino o mercado Prezunic ou o BRT – que ficam na rua Edgard Werneck e na Estrada dos Bandeirantes, respectivamente - é cobrado um preço diferenciado. Quem precisar se locomover no trajeto comum da Kombi, paga R$2,50, e quem quiser ir à um lugar fora da rota, paga R$ 3,00.
Os “cabritinhos”, como as kombis são conhecidas, também prestam serviços grátis à comunidade. O motorista Jeremias da Silva Viera explica como os atendimentos funcionam.
- Nós não podemos negar socorro à comunidade, por isso a gente faz o “Samu comunitário” em casos de moradores atingidos em confrontos entre Polícia Militar e facção e em casos de emergência com idosos, mesmo sem ferimentos – comenta.
Mas essa relativização do tempo que o morador gasta para chegar até o destino, quando utiliza a kombi, faz com que a busca pelos moto-táxis aumente. Os motoqueiros oferecem a praticidade e a rapidez que os passageiros querem devido à falta de tempo rotineira.
Segundo Jeremias, os moto-taxistas não são concorrência para os motoristas de kombi. Para ele, cada transporte oferece características diferentes.
- Nós não vemos as motos como concorrência porque tem espaço para todo mundo trabalhar. Só quem atende os moradores, internamente, são as kombis e os moto-táxis, então dá pra todo mundo trabalhar bem e atender as pessoas da melhor maneira possível.
O morador e moto-taxista da Cidade de Deus Jayme Pereira confirma a versão de que os dois tipos de transporte trabalham de forma harmônica na comunidade.
- Cada um tem o público certo. Uns querem mais comodidade e escolhem usar a Kombi, outros preferem rapidez e escolhem as motos. A convivência não é de concorrência não – comenta.
Os moto-taxistas da Cidade de Deus, muitas vezes, trabalham exclusivamente com a locomoção de moradores. Mas existe a parcela de profissionais que trabalham como motoboy em pizzarias e farmácias, por exemplo, para aumentar a renda.
Apesar da incerteza do horário que os clientes vão precisar do trabalho do moto-taxistas, eles também se disponibilizam para trabalhar em horários fixos, como conta Jayme Pereira.
- Tem gente que fecha um valor por mês com o moto-taxista para levar até o trabalho. O valor depende do percurso e do acordo entre os dois. Mas é um pagamento fixo num trabalho que não dá essa precisão – explica.
O auxiliar administrativo e morador da Cidade de Deus, Diego de Lima, é um exemplo de pessoas que preferem circular, internamente no bairro, com moto-táxis ao invés das kombis.
- Minha esposa já teve problema com os “cabritinhos”, porque mesmo que atenda a localidade, é complexo porque falta um itinerário definido. O motorista é quem decide se segue o percurso normal ou muda no caminho – afirma.
Diego é administrador de um jornal comunitário na Cidade de Deus chamado “CDD na Web”, por isso está engajado no cotidiano dos moradores do bairro. Ele afirma que a imprecisão do tempo gasto no transporte de kombi acaba levando o morador a procurar mais as motos.
- São muitos os casos de pessoas que não se adaptaram ao modelo de transporte dos “cabritinhos”. E como precisa de transporte interno para chegar na rua principal, onde passa transporte público, os moradores acabam recorrendo aos moto-taxistas – comenta.
Devido à falta de transporte público circulando nas ruas internas da comunidade, os moradores procuram a melhor forma de se locomover e chegar ao destino da melhor maneira possível, seja à trabalho ou por lazer. As kombis e os moto-táxis são os responsáveis por atender a essa necessidade da população, e têm como objetivo prestar o serviço público que não chega ao interior da Cidade de Deus.
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