CUFA abandona a comunidade

Apesar de ser berço da Central Única das Favelas, moradores locais não são mais atendidos pelos projetos sociais

A matriz da Central Única das Favelas (CUFA), ONG localizada na Avenida José de Arimatéia 90, no bairro Cidade de Deus, não está mais em funcionamento. A organização sempre teve um papel de extrema importância em ações sociais dentro da comunidade e agora está sucateada. A população se sente abandonada.

O porta-voz da associação de moradores da Cidade de Deus, Josias da Silva, atribui a interrupção das atividades aos crescentes conflitos entre traficantes e policiais. No entanto, a moradora e administradora da página do Jornal CDD Acontece, no Facebook, Carla Siccos, afirma que se fosse esse o caso várias outras organizações sociais na comunidade também teriam fechado as portas. Atualmente, a unidade da região ocupa cerca de três a quatro salas além das que estão fechadas dentro da antiga Associação de moradores do Lazer, mas sem oferecer atividade alguma.

A Central Única das Favelas nasceu na Cidade de Deus em 1997 criada por Celso Athayde e o rapper MV Bill – que juntos escreveram o livro “Meninos do Tráfico” que deu origem ao documentário.

Em 2011 o então presidente americano Barack Obama visitou a comunidade sob forte esquema de segurança. Também estavam lá Eduardo Paes e Sergio Cabral que na época eram prefeito e governador, respectivamente. Moradores protestaram pois não tiveram acesso ao “evento”.

Em 2006 a CUFA da Cidade de Deus recebeu o ex-presidente Lula na época na corrida presidencial. Foi a primeira vez, em 40 anos de existência, que uma autoridade -federal, estadual ou municipal- visitava o cenário do filme “Cidade de Deus”, indicado ao Oscar em 2004. Líderes comunitários viram no comício de Lula a oportunidade de superar o estigma de antro da criminalidade.

A organização nasceu exatamente com esse objetivo, de resgatar a juventude. O projeto cresceu e agora atua em mais de 400 cidades brasileiras e 17 países, com sede global no Bronx (NY). Reconhecida internacionalmente oferece a jovens que vivem em comunidades carentes uma outra visão da realidade e uma alternativa à vida de crime.

A CUFA promove atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, como grafite, DJ, break, rap, audiovisual, basquete de rua, literatura, além de outros projetos sociais. Além disso, promove, produz, distribui e veicula a cultura hip hop através de publicações, discos, vídeos, programas de rádio, shows, concursos, festivais de música, cinema, oficinas de arte, exposições, debates, seminários e outros meios. São as principais formas de expressão da CUFA e servem como ferramentas de integração e inclusão social. Dentre as principais revelações desse trabalho estão Sabotage, Negra Li, Emicida, Criolo e Nega Gizza – que atualmente é a presidente da organização.

De acordo com a moradora Carla Siccos, o espaço ocupado pela CUFA poderia estar sendo utilizado por outras organizações sociais mais presentes na comunidade, mas a Central “não abre mão por puro orgulho”:

– Tem um laboratório de informática completo lá inutilizado. Porque a CUFA Madureira tem tudo e para a CUFA Cidade de Deus não pode ser disponibilizado nada? É nesse momento difícil que a gente precisa de tudo funcionando. – Desabafa Carla

Segundo ela a desculpa da violência para a interrupção das atividades “não cola”, porque a CDD sempre foi violenta – inclusive é por isso que a CUFA existe – e o aumento dos tiroteios nesse ano não afetou as atividades de outras organizações sociais como o SESI Cidadania; CRJ (Centro de Referência da Juventude) e ASVI (Associação Semente da Vida da Cidade de Deus).

Um dos fundadores da CUFA, Celso Athayde, acusa a prefeitura de “não estar honrando com seus compromissos”. Procurada a prefeitura respondeu que está cumprindo suas obrigações para com a organização social.

A CUFA de Madureira – que, supostamente, absorveu as atividades da CUFA da Cidade de Deus – não atende o telefone nem responde as mensagens deixadas na página oficial do facebook.

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