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O reflexo da ilegalidade nas comunidades cariocas

  • Tiago Waldeck Rodrigues
  • 22 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Como a repressão afeta o cotidiano das favelas

Existe uma teoria de que a violência é a única resposta possível para as crianças das favelas e que seus atos violentos misturados com crueldade deveriam ser até compreendidos, pois eles não têm outra opção. É por conta disso e de diversos outros fatores que a violência vem aumentando muito desde 1970.

Alba Maria Zaluar é uma antropóloga brasileira, com atuação na área de antropologia urbana e antropologia da violência. Ela escreveu o livro "Cidade de Deus: a história de Aílton Batata, o sobrevivente". Esse livro ajuda a entender a dinâmica da violência e do tráfico no Rio. O interessante é que as análises feitas no livro do Aílton são enriquecidas por depoimentos de diversas pessoas que participaram daquele momento na Cidade de Deus. Revelando uma enorme desigualdade social que gerou a comunidade do Rio de Janeiro conhecida por todos hoje em dia.

Para Alba Zaluar, a repressão é um dos principais fatores para a ilegalidade. "A repressão ao consumo pessoal de drogas e as atividades comerciais que acontecem em torno da droga, que é proibida por lei, provocou o surgimento de diversas pessoas interessadas em ficar na ilegalidade para conseguir vantagens financeiras, políticas ou até mesmo psicológicas."

Ainda soma-se a isso a facilidade em encontrar armas de fogo para conseguirem resolver conflitos e problemas que apareçam nas favelas. Com isso surgiu a ilusão que existe até hoje, a do dinheiro fácil, e assim, o comércio ilegal de drogas começou a trazer pessoas sem escolaridade necessária para buscar um emprego. Dessa forma começou o ciclo vicioso que está presente na nossa sociedade. A repressão seletiva aumenta a revolta desses jovens e com isso eles buscam a única opção viável para eles, a entrada para o tráfico.

É válido afirmar que o negócio montado de forma ilegal cresceu devido a proibição do comércio, porte e uso de algumas substâncias pelo Estado. Porém, essas substâncias ilegais começaram a oferecer lucros altos e imediatos para aqueles indivíduos que se aventuravam nesse novo negócio lucrativo. Além disso, esses traficantes que começavam a aparecer no Rio de Janeiro precisavam defender os seus interesses, surgindo assim um novo negócio que gerava lucro, a venda e o contrabando de armas.

É nesse cenário que Aílton cresceu. Na Cidade de Deus, ele passou por tudo isso até chegar a ser dono da boca, no filme o personagem Cenoura é inspirado no Aílton. Somente o seu personagem do filme teve o nome alterado pois na vida real, ele foi o único sobrevivente dessa guerra que aconteceu na CDD.

Uma reportagem do Globo mostra que mais de 2,5 mil fuzis foram apreendidos entre 2007 e 2017 no Rio de Janeiro. Segundo um levantamento de dados, em 2007 foram apreendidos 214 fuzis, em 2016 esse número aumentou para 369 fuzis apreendidos, um aumento de 72,4% em 10 anos. Pode-se dizer que o revólver é um instrumento ligado a violência e é sempre associado a virilidade masculina, especialmente do jovem que busca conseguir contexto. Porém esse mesmo revólver é visto pelas outras pessoas que estão desarmadas como objeto negativo da covardia.

Segundo Alba Zaluar, a miséria não explica a violência. "A vulnerabilidade dos adolescentes pobres e as estratégias utilizadas pelos traficantes de drogas para atrair os menores para essa rotina é muito mais complexa do que essa simples tese. No contexto social, os menores acabam se espelhando nos traficantes pelo fato deles conseguirem muito dinheiro, poder e prestígio. Esses adolescentes pobres eram então trancafiados em instituições que são conhecidas por seus métodos arbitrários e excessivos. Os jovens eram presos como traficantes, aumentando e muito a população carcerária no Brasil."

As crianças e adolescentes são socializados nas suas famílias, na escola onde estudam, em grupos religiosos que frequentam e até mesmo nos eventos esportivos e culturais presentes na cidade. Porém se esses jovens não recebem essa atenção e o cuidado necessário para o seu desenvolvimento, eles acabam aprendendo as práticas violentas que estão presentes na rua e eles acabam tendo uma socialização diferente, pois eles não encontram a confiança, a lealdade e a reciprocidade que estão presentes na família ou na escola.


 
 
 

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